Rafting Kalunga Cavalcante e Monte Alegre de Goiás na Chapada dos Veadeiros

Rafting Kalunga Cavalcante e Monte Alegre de Goiás na Chapada dos Veadeiros

A fundação da empresa Veadeiros Rafting está diretamente ligada a característica sertaneja ou “roceira” mesmo de seus proprietários, que desde suas infâncias tiveram o privilégio de crescer no meio rural em contato com a natureza e fazendo parte das comunidades que nela vivem.

Quando chegaram a Chapada dos Veadeiros, o casal  Sara e Guilherme logo começaram a se enfiar em todos os rios possíveis, os que já tinham conhecido e os que ainda não tinha sido navegados, a fim de transformar o incrível potencial de canoagem da região em produtos turísticos, mapeando os acessos conhecendo os riscos, fazendo contato com proprietários e moradores das margens dos inúmeros rios da chapada, preparando o terreno   para que outras pessoas também pudessem compartilhar as experiências e os locais de incrível beleza escondidos entre as montanhas. O que não sabiam é que o potencial iria muito além disso.


Expedição 10 dias pelo Rio São Felix – Sara Predebon, Guilherme Predebon e Tibor Rombower – ano de 2018

Quando se procura locais pouco visitados e natureza preservada na região da Chapada dos Veadeiros você irá, inevitavelmente, ter encontros com moradores muito acolhedores e receptivos, pessoas com uma hospitalidade marcante que fazem a gente não querer ir embora seja lá onde estiver.  O casal logo se identificou com os as características do povo da região, por causa da semelhança com a origem rural, pessoas com um alto grau de sustentabilidade alimentar, plantando seus próprios alimentos, indo poucas vezes a cidade, criando seus animais e como se diz por aí “na lida da roça”, o que levou a uma grande identificação e a boas amizades. Logo tiveram a incrível experiência de descer o maior rio da chapada dos veadeiros o grande rio Paranã, que levou ao contato com os mais ilustres moradores de toda a chapada, o Povo Kalunga, uma enorme comunidade com varias outras sub comunidades dentro de um vasto território incrustrado entres as lindas paisagens do nordeste Goiano.

O Quilombo Kalunga é o maior do Brasil e o ultimo a ser descoberto, se estende por três municípios começando nas divisas de Goiás com o estado do Tocantins em Monte Alegre de Goiás, passando por Terezinha e terminando em Cavalcante um dos mais belos e vastos municípios do estado.


O desenvolvimento do Curso de rafting da chapada dos veadeiros para o povo Kalunga

A experiência no Rio Paranã, conhecendo as isoladas comunidades das margens, trouxe uma série sensações e percepções sobre o quanto era rica e digna de ser conhecida por todos os Brasileiros, pois esta diretamente ligada ao que represente a Brasilidade, as origens do nosso povo, nossa própria história, que por sinal deveria ser ensinada nas escolas de todo país.

E então foi feita uma promessa um pouco pessoal e também da empresa: realizar o primeiro curso de rafting da chapada dos veadeiros para o povo Kalunga, para que estes saíssem na frente dos demais guias da região e tivessem um diferencial competitivo na atividade que está apenas começando na chapada dos veadeiros.


Foto: Guilherme Predebon – Ribeirinho Kalunga em frente dedo do mulek -Expedição Rafting kalunga “Vivendo nas Águas”

O que veio a seguir influenciou tanto no modo de vida do casal que passou se considerar “aprendiz de Kalunga”, pois tinham as mesma origens rurais e da natureza, só que de um jeito que só tinham ouvido nas historia dos avós, dos sinhozinhos que contavam com muito saudosismo da época em que tudo que tinham vinha da terra, dos roçados, do trabalho duro,  desde o adobe (tijolo feito de barro) usado nas paredes, até os doces e pratos preparados com frutas e alimentos que colhiam do mato ou plantavam eles mesmos, foi algo realmente deslumbrante e profundo.

       Com a criação da empresa Veadeiros Rafting, desde o primeiro roteiro já havia a implementação de uma valiosa norma Brasileira chamada Sistema de Gestão da Segurança que prevê várias diretrizes para segurança, de gestão e também reponsabilidade social por meio das chamadas politicas de segurança.

A empresa então criou logo uma politica que previa a parceria com alguma empresa local para o desenvolvimento conjunto dos roteiros de aventura nos municípios envolvidos, o que culminou em um roteiro de 1 a 6 dias que visitava várias famílias dentro do território Kalunga, beneficiando muitos moradores ao mesmo tempo utilizando os serviços como hospedagem em camping nos quintais, almoço e jantares tradicionais incríveis,  guias  e acima de tudo o contato com uma cultura tão importante e interessante, levando desenvolvimento do turismo como uma nova forma de renda para os moradores das margens do Rio Paranã, o roteiro foi chamado de “ Vivendo nas Águas”.


Corredeira do funil do Paranã Teresina /Monte Alegre de Goiás – Expedição Etno-rafting vivendo nas águas

O Povo Kalunga

Durante a pesquisa sobre o povo Kalunga, descobriu-se que a visita no território através do Rio Paranã era muito mais do que simplesmente contemplar sua região e sua cultura, era também uma forma de ligação com os antepassados, com suas origens e com o significado da palavra Kalunga.

 A gente costuma pensar que as palavras são só os nomes das coisas, mas esquece que elas circulam entre as pessoas. E, conforme vai passando o tempo, as palavras vão ficando carregadas de muitos significados que estão nas ideias das pessoas. Kalunga é uma palavra comum entre muitos povos africanos e foi com eles que ela veio para o Brasil. Era normal por isso que os próprios africanos fossem chamados assim, calungas. Este era apenas um outro modo de dizer negros. E como os colonizadores portugueses consideravam todos os negros inferiores, é fácil entender por que a palavra calunga, nome que eles davam aos negros, passou a querer dizer também coisa pequena e insignificante, como o camundongo catita do Nordeste. Mas, quando se pensa no sentido da palavra kalunga para os próprios africanos, tudo se inverte. Entre os povos chamados congo ou angola, por exemplo, que foram dos primeiros a serem trazidos para o Brasil como escravos, kalunga era uma palavra ligada às suas crenças religiosas. Ela se referia ao mundo dos ancestrais. Como já se disse no começo desta história, eles acreditavam que as pessoas deviam prestar culto aos seus antepassados, porque era deles que vinha a sua força. Para eles, o mundo era representado como uma grande roda cortada ao meio e em cada metade havia uma grande montanha. Numa metade da roda, o pico da montanha ficava virado para cima. Mas na outra metade a montanha estava invertida, de cabeça para baixo. De um lado da roda, a montanha de cima representava o mundo dos vivos. De outro, a montanha de pontacabeça representava o mundo dos mortos, terra dos ancestrais. As duas montanhas eram separadas por um grande rio que eles chamavam de kalunga. Por isso, para eles, kalunga era o nome desse lugar de passagem, por onde os homens podiam entrar em contato com a força de seus antepassados. Já se vê assim que, se os africanos associavam a palavra kalunga à morte e ao mundo dos mortos, era de um jeito muito diferente do nosso. Para nós, hoje em dia, o cemitério, morada dos mortos, é um lugar triste e assustador. Para eles, kalunga era o que tornava uma pessoa ilustre e importante, porque mostrava que ela tinha incorporado em sua vida a força de seus antepassados. Era assim que agiam os reis, que só governavam enquanto eram capazes de manter seu povo unido em torno dessa força comum dos antepassados. Por isso, no cortejo dos reis e rainhas dos Maracatus, sempre foi obrigatória a presença da boneca que chamam calunga. Ela é um símbolo da realeza africana e do poder dos ancestrais. anos foram aprisionados e trazidos para o Brasil como escravos, atravessando um grande rio, calunga grande, o mar oceano. Então, para eles, a morte passou a ter outro sentido. A morte era um sentimento. O sentimento que os escravos traziam na alma, depois de terem perdido sua liberdade. Por isso eles passaram a chamar de malungos todos aqueles que consideravam como seus irmãos, sobretudo os que tinham vindo juntos da África. Eles eram irmãos porque tinham um mesmo destino. Porque era no mesmo barco, o navio negreiro, que eles tinham feito a travessia da calunga grande. Não era de estranhar que eles aceitassem o nome de calungas que os brancos lhes davam. No entanto, no quilombo da região da Chapada dos Veadeiros, os antigos escravos africanos encontraram de novo o sentido da força que está na palavra kalunga. Ali, o grande rio Paranã, atravessando todo o território que eles ocupavam, era o que protegia o quilombo do resto do mundo do branco. As terras banhadas por suas águas eram o que permitia a cada um continuar vivo. Ali eles estavam defendidos da morte, que seria certa se tivessem que voltar a ser escravos. 0 Paranã podia ser, como na África, o rio que separa a vida e a morte. Por isso, naquele território, a presença de uma plantinha que chamam de calunga torna sagrada a terra onde ela cresce. Uma humilde plantinha que cresce numa terra que nunca seca e por isso é boa para plantar o alimento que sustenta a vida. Por isso também as terras onde a calunga cresce não podem ser de uma só família. São de todas, porque são elas que acodem a todos nos momentos de precisão. Uma humilde plantinha que faz lembrar a necessidade da união e da solidariedade de todos. Ela é a marca da realeza africana sustentada pela força dos ancestrais. Por isso ela é símbolo da dignidade do negro e da grandeza do povo Kalunga.

Ministério da Educação 2011

Foto: Guilherme Predebon – Funil do Rio Paranã – Monte Alegre/Teresina de Goiás

Programa de Formação de líderes de Rafting Kalunga

Com o desenvolvimento do roteiro veio a preocupação de qual seria a forma mais ética e socialmente justa que poderíamos adotar, já que grande parte do roteiro se apoiava na cultura dos moradores o mínimo que deveria ser feito era dar as condições necessárias para que eles próprios pudessem desenvolver o roteiro e montar suas próprias empresas receptivas e operadoras de rafting. Daí veio a dificuldade, como fazer isso, qual a forma correta? E ouve uma falta de interesse considerável das autoridades, mas nada foi suficiente para desaminar ou fazer desistir daquela promessa inicial.

Então finalmente a prefeitura de Monte Alegre de Goiás pediu a empresa que ministrasse um curso de rafiting para as comunidades do lado norte do Rio Paranã, justamente aquelas que a Veadeiros Rafting tinha vontade de beneficiar, já que este lado do território Kalunga não possui atrativos como os de outras regiões como o Vaõ do Mulek que possui varias cachoeiras cristalinas enormes e deslumbrantes, mas possui o Rio Paranã e a uma cultura que talvez seja a mais preservada do Território.

Pensando na proposta de proporcionar autonomia e dar condições aos moradores de protagonizar o turismo em suas regiões, a Veadeiros Rafting criou, de forma totalmente gratuita uma proposta que vai além da simples capacitação de um condutor de rafting para ser contratado por outras empresas, a proposta se chama “programa de formação de líderes de rafting kalunga” dividida em três etapas. Foi pensada para ser implementada de forma continua, podendo repetir os cursos de formação de qualquer etapa enquanto houver     demanda de pessoas interessadas.

As duas primeiras etapas têm como base a norma Brasileira “ABNT NBR 15370 – Condutores de Rafting Competências de Pessoal” sendo a primeira etapa um curso de iniciação as técnicas de rafting com base nos requisitos de competência da norma, na página 5 item 6 competências, e sub- item 6.1 conhecimentos.  

A segunda etapa é um curso avançado de rafting que contempla todos os requisitos da norma proporcionando ao aluno uma vivência aprofundada, aproveitando os exigentes rios da chapada dos veadeiros que trazem uma excelente oportunidade de aprendizado, preparando o condutor para os mais exigentes rios do Brasil e do mundo, incluindo técnicas de acampamento, expedições de três dias entre outras competências.

Já a terceira etapa consiste em uma oficina de formatação de produtos turísticos, montada para abranger todos os conhecimentos e fornecer as ferramentas necessárias para que os moradores das comunidades que atualmente possuem internet e contato de qualidade com qualquer parte do mundo, possam desenvolver seus próprios roteiros, sejam eles de rafting, de turismo de aventura ou qualquer outro potencial que possa ser explorado para trazer rendas a eles próprios, como sua incrível cultura por exemplo. Nesta oficina são abordados aspectos legais, normas e leis que regem o segmento, a identificação de potenciais e dos fornecedores disponíveis, serão disponibilizadas planilhas de cálculo para facilitar a precificação e a adequação dos roteiros conforme demanda, entre outas ferramentas.


Turma do 1º curso de Rafting kalunga ABNT NBR 15370 – Monte Alegre de Goiás

Com grande satisfação a Veadeiros Rafting conseguiu realizar com  sucesso o inicio deste processo com o curso de iniciação a atividade de rafting, realizado  nos dias  2 ,3 e 4 de novembro, foram três dias de muita troca de aprendizado, risadas, emoções, braços doloridos mas com uma impressionante capacidade de absorção do conhecimento e facilidade com as técnicas, foi perceptível o quanto a proximidade com o rio através das canoas em suas pescarias trouxeram facilidade com as técnicas de rafting.

A veadeiros rafting  e o casal Sara e  Guilherme Predebon  puderam honrar suas promessas e repassar de forma voluntária seus conhecimentos a este povo maravilhoso  habitantes do grande rio  kalunga que faz a ligação com seus antepassados trazendo a força de seu povo para os jovens que podem se conectar cada vez mais a esta força do grande Rio e em um futuro próximo possam compartilhar com muitos visitantes as belezas do lado norte do território,  sua culinária e as  historias e tradições que tocaram os colaboradores da Veadeiros Rafting e hoje permeiam suas  vidas.


Agradecimentos:

A Comunidade kalunga da Barra pela recepção e acolhimento

Aos alunos:  Vando, Adão, Mazinho, Eva, Carlos, Lina, Elismar, Rodrigo e I ldo pelo empenho e dedicação.

Ao apoio: Miranda e Ana Paz pela comida deliciosa

A secretaria de Educação de Monte Alegre de Goiás na Pessoa do Rodrigo pela iniciativa e realização desta ação.

A Prefeitura de Monte Alegre pelo apoio do transporte e incentivo.

Entre em contato agora com a equipe da Veadeiros Rafting e agende sua aventura!


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